28 de junho de 2009

Vá, resumindo mas perdendo o impacto:
A arte relaciona-se, mais recentemente, com a necessidade da mente se alienar. Mas acaba por se tornar inimiga do artista, porque nega a realização e a transcendência que ele deseja. Isto porque um artista serve-se da linguagem, e esta remete-nos a uma consciência histórica e prende o atista a algo que já foi feito antes, o que o torna alienado dessa transcendência que pretende.
Segundo Nietszche, vivemos numa época de comparações e instintivamente comparamos tudo o que já foi verificado. Se o descontentamento da arte resido no facto de nos faltar palavras e ao mesmo tempo de dispormos de palavras a mais (pois isso leva a uma hiperactividade da consciência que limita os sentidos) o contentamento está no uso de um 'discurso sensorial' que não passa pelos sentidos e integra-se na natureza sensível, estando livre de distorção e ilusão. "À medida que o prestígio da linguagem cai, o do silêncio sobe."
O artista deve render-se ao silêncio, pois a própria lacuna ou espaço de diálogo perdido entre o artista e o seu público pode conferir-lhe ascetismo. Mesmo sem atribuir intenções objectivas à obra, persiste o resultado dessa experiência; tal como existe sempre algum som no silêncio, existe sempre algo implícito no facto de se estar a 'olhar', mesmo que seja para o 'vazio'. Beckett diz que a arte deve aposentar-se de simulações e deve apenas expressar que nada há a dizer.
Assim, o facto de se assumir que uma obra de arte é falsa ou nada tem a dizer torna-se numa atitude verdadeiramente séria, pois desse modo a arte é encaradacomo um 'meio' para algo atingível só após o seu abandono.
Um artista que deseja o silêncio já ascendeu de algum modo, pois para chegar a esse ponto já indagou a sua arte até à exaustão.
"Nenhum pássaro tem ânimo para cantar num matagal de indagações."

a partir de The Aesthetics of Silence, SUSAN SONTAG

Achei este assunto demasiado interessante para não ser colocado aqui! Qualquer ser humano de tanto bater, bater, bater na mesma tecla, nas mesmas questões, terá de se cansar, e é ao afastar-se dessa busca que impôs para si (limitadamente conduzida por si próprio) que de algum modo transcende as suas próprias tormentas.
Há quem tenha sugerido, por essa altura, que se pegasse fogo a toda a informação escrita de modo a reconstruir todo um universo nominativo sem a carga que o actual traz. Eu não vou por aí, antes tenho vontade de difundir ainda mais um simples exercício, chamado Gibberish, disponibilizado aqui, no excelente site Palavras de Osho.

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