20 de julho de 2009

Tenho uma semana para me pirar daqui. Parece-me uma eternidade, estes 8 dias. Provavelmente passarão mais rápido do que penso. Dá-me a irrequieta sensação que não tenho nada para fazer. Mas até tenho; tenho que arrumar tudo porque vou para longe. Arrumar tudo como quem diz.. não só levar tudo o que irei usar, como fechar as gavetas todas que cá ficam. Porque quando voltar, e conto que seja no mínimo um mês depois, não quero nada disto. Não quero voltar a pensar nos trabalhos que nunca cheguei a entender, não quero lembrar-me sequer dos sites que ficaram a meio porque não me deram os conteúdos. Mas também quero nesse mês, entre muitas, muitas outras coisas, aprender a não abrir tantas gavetas, não desarrumar tanta coisa, quando já conheço as probabilidades de vir a ter uma postura não equilibrada com tantas gavetas abertas. Quero unir o meu entender em algo firme, e não dividir as forças em trabalhos inacabados.
Tenho uma semana para me pirar daqui. Penso que será uma semana insuportável, penso que me tornei meio anti-social pois são raras as pessoas que me apetece mesmo ver, penso que é pouco o que sei de mim, ou fundamentado em coisas subjectivas e apenas minhas. Será, na verdade, uma semana rica. Pelo menos porque fiz tenções que fosse a última semana de uma fase qualquer. Acontece uma exposição, o que é bom. Acontece o querer finalizar estes assuntos todos. Tenho um monte de trabalhos pesados para trazer da faculdade, pois já fizeram o que tinham a fazer. Tenho um quarto sobrelotado para esvaziar. Pelo menos voltar a fazer-se notar o branco. Tenho papelada para arrumar no separador correspondente a estes 6 meses que acabaram. Tenho canetas e outros variadíssimos utensílios para seleccionar para levar. Tenho barro em papa para secar, tenho barro em pedra para partir e por de molho. Acabei de me lembrar que tenho 2 cacifos na faculdade para esvaziar, um cheio de sobras em pedra, outro cheio de um monte de coisas repletas de vaselina. Tenho uns 40 itens no ambiente de trabalho que não deviam estar lá, tenho informação para arrumar e não mais ter que olhar, tenho que seleccionar o que levarei comigo. Tenho livros espalhados desde o carro até à cozinha para voltar a por no lugar. Tenho um quarto ocupado para desocupar. Já disse isto. São tantas coisas, que acabo por quase me afogar no nada a que tudo isso se reduz, e por sentir que me espera uma semana inquietante. Eu não decidi ir passar um mês fora. Não pensei passar um verão quase igual ao verão anterior. Também não me senti tentada em fazer algo diferente. Mas não escolhi, simplesmente surgiu algo suportável, longe daqui, longe das pessoas, e acho que foi por isso, e também motivada pela paixão que tenho pela cerâmica e por um convite para dar um workshop, que acabei por ir por aí, sem chegar a pensar sequer, mas fugindo da hipótese de chegar agora a este ponto e não saber o que fazer, e pior, continuar aqui. Não estar ocupada, para minha surpresa, tornou-se meio insustentável. Ao menos sei que será apenas uma semana, e que passará mais rápido do que penso, e possivelmente quando chegar a hora até irei um ou dois dias depois pois não tratei de tudo a tempo. Se há coisa imperativa, é que antes de sair daqui terei que deixar este espaço livre e limpo de tudo o que tem sido; sem memórias, sem conotações, de modo a que quando voltar, seja lá como for, seja o que for que traga comigo, se encaixe bem aqui. Saia o que sair daqui, é meu, quero começar por não julgar, não pensar o que será, não imaginar o que acontecerá. Simplesmente honrar aquilo que é, deixando ser. Não quero mais chatices comigo. Não quero estar triste comigo, ainda menos quando é algo exterior que se mete entre eu e eu. Só quero o zero, sinceramente, não é apagar tudo, é saber que pode estar lá tudo, mas em livros fechados, lidos e entendidos, que não tento constantemente decorar. Já passei lá. Não estou assim tão longe, nem é assim tão difícil. Acho que só requer um pouco mais de concentração. Em mim e na minha alienação. Como não ver televisão, não ouvir uma discussão, não pensar como se destrói o planeta sem ocorrer ao invés agradecer, tanta coisa que não quero pensar porque serei tentada a revoltar-me.. saltos altos, futebol, fome, armas, corrupção, spray, comida estragada é o que está ao nosso dispor, carros que poluem, sociedade consumista, anti-depressivos, curas para o cancro demasiado baratas para serem viáveis, toneladas e toneladas de ódio são vendidas por quem diz apregoar a paz. Hipocrisia. Podíamos ter sido melhores. Relógios caríssimos feitos por crianças que acabarão por morrer de fome com o intuito de enfeitar mais um pulso mimado. Podemos ser melhores. E esta realidade não está assim tão longe, está já ao virar da esquina, na verdade, está por vezes em mim, também. Chateia-me saber isso, que eu também poluo, porque são propositadamente fracas as condições ao meu dispor para ter um carro não poluente. Petróleo. Mortes em massa. Armas. Toneladas e toneladas de ódio. Dinheiro. 20% da população mundial a controlar 80% da riqueza do planeta. Como se muda algo tão colossal, tão erradamente entrenhado nas raízes deste planeta? Fim do meu tempo de antena..... simplesmente insuportável.
Até onde puder não contribuir para esta realidade, não contribuirei. Mesmo em pensamento. Talvez seja mesmo tarde demais para ser pessimista. Resta-nos ao menos entender, aceitar, e aguardar resposta. Não é tarde demais para agradecer o facto de existirmos nem é tarde demais para sentir a resposta a isso. Não é tarde demais para nos deliciarmos com coisas imateriais dum modo que nem conhecíamos. Não é tarde demais para, pelo menos, sentir.