Ainda em vias de perceber o porquê daquilo que se passa por estes lados. De repente tudo perdeu o seu valor; tudo deixou de importar, e eu não sou nem quero ser responsável por nada nem ninguém. Apenas me sinto em dívida para com os meus pais como nunca senti, tento mimá-los mais, conversar mais, oferecer trabalhos meus, jantar com eles se puder todos os dias. E só quero ser responsável por isso e pelo meu trabalho, nada mais.
Levei tanto tempo a tentar solidificar relações com outros, a dar o melhor de mim talvez na tentativa de assegurar um tratamento do mesmo género quando os papéis se invertessem; que cheguei a esse ponto apenas para constatar que nada é como eu sonhava, nada vale o que eu pensava. Não há como acumular cupões de ajuda para mais tarde os usar. De há 1 ano e meio para cá vim a perceber que nos momentos que mais julgamos precisar dos outros, é quando melhor aprendemos que de quem mais precisamos é de nós na verdade. Ao ficarmos despojados de algum tipo de apoio ao nível daquele que precisamos, só nos resta procurá-lo em nós. Penso que os resultados daí provenientes podem vir a reestruturar o nosso modo de pensar. Na dúvida, limito-me a um só pensamento: aquilo que as pessoas me fazem sentir quando penso nelas. Sozinha, desiludida, divertida ou apaixonada pela vida que me deram. Sim, é assim que sei. Posso ter sempre algo a aprender, mas se confiar nessa imagem e sensação estou logo a dar-me ao direito de me sentir como quero sentir. Há pessoas que me fazem rir, com conversas triviais ou ideias tresloucadas. Outras pessoas fazem-me sentir quase morta, ansiosa ou nervosa demais. Outras dão-me vontade de dizer a toda a gente que vos amo e que são lindos, quer me deixem alegre, triste, quer não se mexam ou quer falem alto demais. Tornou-se importante para mim este tipo de 'scan' da situação; passei a evitar sentimentos indesejados, momentos emocionalmente dolorosos, e desse modo consegui passar a não ceder à ansiedade. Passei a evitar muita coisa na verdade muito mais do que podia imaginar. Mas não tenho medo daquilo que posso vir a perder, pois sei que o que está certo há-de ficar, e acima de tudo confio.
Gosto de me rir com ou sem motivo, de ideias loucas, sóbrias ou mesmo tristes. Hoje em dia abraço essa loucura e abraço a franqueza do ser. Gosto de me permitir ser o que sou. Gosto até dos dias em que só sei chorar, pois essa tristeza tem sempre outras belezas para me mostrar. Gosto de já não me ver afectada por questões que estão longe daquilo que quero para mim. Há certas discussões que mais vale nem começarem, gosto de já não sentir que devo mostrar certas coisas a certas pessoas. Não. Não é da minha responsabilidade, e seria esforçar-me em vão. Por mais que em mim possa ferver e transbordar a vontade de ajudar alguém, hoje sei que não é possível fazer pelos outros aquilo que só eles podem fazer. Já levei essa tentativa longe demais, e muitas vezes é na beira do precipício que se encontra vontade de mudar. Sem dúvida mudei. Sem dúvida já não tenho medo do que possa vir.